DICA DO DIA

Não tenha medo de errar, os erros são construtivos, quando entendemos eles.

ALO DONA DE CASA

Muitos jeitos de proteger a casa

Na sabedoria cabocla, plantas e bênçãos guardam o lugar de viver!

"Apanhar a criança no mundo," juntar a meninada e contar história, "botar"

verso na roda da dança, rezar e benzer...Tudo isso já fez parte da vida da casa. No meio rural, ainda faz. Gestos de proteção e bênçãos para o lugar de viver sempre fizeram parte da tradição do nosso povo.

DO LADO DE FORA

Pés de babosa, nos cantos do terreno, afastam ladrões. Contra serpentes, pó-de-chifre ao redor da casa. No jardim, não pode faltar a dama-da-noite, que exala, em perfume, um amor generoso e doce. Flores de campânula atraem beija-flor e alegria. A mirra ajuda a cumprir o dom )não foi à toa que o Cristo-menino a recebeu no nascimento). Poejo auxilia relações familiares e camomila afasta inveja, dizem os caboclos, que sugerem ainda nunca repelir sapos, que limpam sentimentos ruins.

CASA ADENTRO

Ao entrar, deve-se abençoar a casa mentalmente. Junto à porta, o vaso das sete ervas: comingo-ninguém-pode (cuida da vida material), alecrim (traz alegria, protege de raios e do mal, dá sorte aos amantes, atrai entidades benfazejas), guiné (transforma a negatividade), arruda (defende, mas deve receber um nome como se fosse comadre. Aí, sim, a sua força se engrandece), cinerária-marítima) (para saúde), pimenta (limpa raiva e desentendimento), espada-de-são-jorge (contra feitiço).

Atrás da porta, uma oração, a imagem da divindade ou uma bolsa com três dentes de alho com casca (renovada todos os anos) reforçam a proteção.

FAXINA ENERGÉTICA

Na hora de limpar a casa, uma vassoura de alecrim-do-campo, ou um pano de chão embebido em chá de boldo, cumpre a funcão de limpar também as raivas e mágoas. Ao guardar a vassoura, os ramos ficam para cima. E, na mudança, não se carregam vassoura nem peneira velha.

O BEM DO PRÓXIMO

Para atrair prosperidade, o segredo é a generosidade. Na roça, após a colheita, paga-se o dízimo para a terra: parte dos grãos é devolvida ao lugar, atraindo abundância para o futuro. Na cidade, o segredo é dedicar parte dos ganhos (e do tempo) aos necessitados.

NA COZINHA

Sete espigas de milho representam fartura. Uma réstia de alho trabalha a proteção. A casca de laranja ajuda a acender o fogo a lenha, perfuma, purifica e alegra ambientes (na cidade, pode-se secar as cascas e queimá-las, ou deixá-las em infusão na água, que depois é borrifada na casa). Uma pedrinha de qualquer cristal colocada no filtro melhora a qualidade vital da água.

NO QUARTO

Lavanda e margarida trazem felicidade ao casamento. A folha de cana-de-açúcar, cruzada em X sob o colchão, ajuda a curar sentimentos pesados. Ramos de alfazema, alecrim ou sete folhas de mangueira sob o travesseiro favorecem o sono. Um copo de água, com carvão e clara de ovo, na cabeceira da cama, age como um filtro mental e ajuda nos casos de insônia. Mas deve ser renovado todos os dias.

VELA E ANJO

Um altar atrai um anjo guardião. Ali, um ramo de angélica auxilia nas invocações. Acender vela, só com a intenção bem clara!

BENZEDURA E DEFUMAÇÃO

A benzeção, indispensável, começa dos fundos para a frente do lugar, espargindo-se

água benta com um raminho cheiroso, rezando até chegar à porta da rua. Assim, tiramos todo o mal. Mas não se deve benzer depois do pôr-do-sol, o que diminui a força do rito. Um copo com água e sal grosso sustenta a purificação. Se a cor alterar, troque rápido a água.

Contra melancolias, "queimar, numa telha com brasas, ramos de alecrim e louro, sal marinho e um fio de azeite virgem. Defumar a casa por três noites, rezando com muito fervor".

DIA DE FESTA

A caiação prepara a casa para a festa. Um ramo florido, na sala, torna as pessoas alegres e felizes. É hora da contação, da reza ou de festejar o nascimento com cantoria. Quem já dançou roda-de-verso? É só dar as mãos, seguir o compasso e cantar: "Não dou as rosas da face nem as que tenho na mão/ Daria, se me estimasses, as rosas do coração"... E lá vai madrugada adentro!

Vida, casa encantada, onde eu moro e mora em mim, te quero assim verdadeira, cheirando a manga e jasmim!", diz o poeta Thiago de Mello.

Carlos Solano