segunda-feira, setembro 13, 2010

DICA DO DIA

BOAS PALAVRAS PRODUZEM SEMPRE BONS RESULTADOS

ENCANTOS DO MUNDO

LENDAS DESSE BRASIL DE MEU DEUS

Já aconteceu de você ver água derramada sem motivo pelo chão? Ou os sapatos amanhecerem em um local diverso da noite anterior? E aquele objeto que estava agorinha na sua frente, mas, de repente... Cadê? Desapareceu, para surgir novamente, depois de muita amolação, no mesmíssimo lugar! Quem, na cidade, explica isso?
No meio rural, explica-se muito bem por meio de histórias e sabedorias que têm o dom de abrandar o coração dos homens. É um conhecimento que brota do contato com a terra, com o crepitar do fogo, com as noites estreladas. Traduz um olhar de encantamento em direção ao mundo, uma projeção da fé por uma vida melhor.
No interior de Minas, todo mal feito que ninguém fez é obra do Romãozinho, espírito travesso que entra na casa e remexe tudo. Acontece muito em casa que tem menina-moça. Às vezes, precisa até "passar um ramo pela casa" para benzer. Apesar de nunca ter sido visto, ele pode ser uma versão do saci, moleque pretinho, de uma perna só e gorro vermelho, que surge num redemoinho. Ambos adoram esconder as coisas, só para ficar gargalhando num canto, vendo um pobre coitado desnorteado pela casa feito bobo. Escondem dinheiro, fazem errar o caminho, derramam e quebram coisas, jogam pedra, apagam fogo, deixam a porta aberta.
Mas eles não são coisa ruim, não, pois lembram às pessoas carrancudas da cidade que dar risada é um santo remédio para curar os males da vida. Rir das próprias carências e dos temores ajuda a aliviar tensões, a enxergar além...Disse o poeta argentino Jorge Luis Borges que, se pudesse viver novamente, não tentaria ser tão perfeito. Correria mais riscos, contemplaria mais entardeceres, comeria mais doces, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Neste Brasil de meu Deus, qualquer povoado tem caso de visagem. Visagem é aparição de luz, de fada, de almas, de bichos fantásticos, portadores de avisos, sinais e, às vezes, de esperanças. Em Minas, isso é mais comum na proximidade da água ou da samambaiaçu. Uma das mais conhecidas é a Mãe do Ouro, que surge à noite sob a forma de uma luz forte ou de uma moça de cabelo reluzente, trazendo aviso de progresso e 
E , na beira d'água, contam-se casos de mulheres formosas cuja unica função é atentar os homens atraindo todos para o fundo do rio. Na verdade, elas atentam "a vontade secreta de experimentar o novo. O sonho de encontrar, no desconhecido, o paraíso e a felicidade perdida", diz Ricardo Azevedo no delicioso livro infantil Armazém do Folclore (ed. Ática)
A noite escura, o mistério e a incerteza são moradas do bicho-papão, do tutu-marambaia ou da cuca, bichos que assustam as crianças (e os adultos) que ficam pensando abobrinha e não querem saber de dormir. Contra a escuridão, acende-se a luz: das velas, da confiança e do pensar positivo.
Na mata, tocaiando, vive um espírito protetor: o curupira, um anão de cabelos vermelhos e pés virados para trás. Ele não se importa se alguém derruba uma árvore para construir a casa ou caça para se alimentar. Mas, acompanhado de porcos-do-mato, persegue os que caçam por prazer ou destroem as matas.
Quantos curupiras seriam necessários para afugentar a insensatez que já destruiu 700 000 km2 de floresta na Amazônia?  casa, por exemplo. Se um desperdiça, o outro fica sem. No Brasil, onde existem 50 milhões de pessoas vivendo na pobreza, desperdiça-se, só em Minas, 30% da produção de hortigranjeiros, desde a lavoura, transporte e manuseio até a despensa do consumidor. Segundo pesquisa, nos sacolões, 80% do que é descartado poderia ser aproveitado na alimentação. Haja curupira!
As lendas expressam a alma de um povo. As nossas falam de um povo sensível que venera o ambiente em que vive e que o casamento com as forças naturais nos torna mais verdadeiramente humanos.
Carlos Solano